Após 6 cirurgias, jovem com 'pior dor do mundo' entrará em coma
Carolina Arruda tem neuralgia do trigêmeo bilateral e busca alívio
Por Laís Seguin | 17/06/2025 09:35 - Atualizada às 17/06/2025 13:20

Reprodução/Arquivo pessoal
Após 6 cirurgias, jovem com 'pior dor do mundo' tentará coma
Há mais de uma década, Carolina Arruda, 27 anos, convive com uma dor descrita como "choques elétricos incessantes" no rosto, causada pela neuralgia do trigêmeo bilateral — uma versão raríssima da doença, que afeta menos de 0,3% da população. Após seis cirurgias cerebrais, implantes de neuromoduladores e bombas de analgésicos direto na medula, a mineira agora se prepara para um procedimento extremo: um coma induzido, sua última esperança para "reiniciar" o cérebro e interromper o sofrimento contínuo.
*Este texto aborda sofrimento extremo e procedimentos médicos invasivos que podem gerar desconforto emocional. Se você está passando por uma crise ou pensamentos suicidas, por favor, peça ajuda imediatamente no CVV (Centro de Valorização da Vida). Ligue 188 (24h, gratuito)
A dor que não cessa
Em relato emocionante às redes sociais, Carolina descreveu a decisão como "cruel, mas necessária": "Nem dormindo, nem com remédios, nem abrindo o crânio a dor some. Aceitar ficar inconsciente por dias parece a única chance de paz, mesmo que temporária" . A neuralgia do trigêmeo, considerada a "pior dor do mundo" pela medicina, em seu caso é bilateral — o que a torna ainda mais resistente a tratamentos.Trajetória de luta
Diagnosticada aos 20 anos após anos de buscas, Carolina já passou por mais de 50 médicos e cirurgias como descompressão vascular e rizotomia. Em 2024, sua história ganhou destaque nacional quando revelou o desejo de buscar suicídio assistido na Suíça. A repercussão levou a um tratamento gratuito no Centro de Dor da Santa Casa de Alfenas (MG), onde recebeu uma bomba intratecal de morfina e eletrodos de neuromodulação. Apesar de breves melhoras, as crises persistiram.
O "último reset"
O coma induzido, programado para as próximas semanas, visa "desligar" temporariamente a atividade cerebral na esperança de que, ao "religar" , o sistema nervoso responda melhor aos medicamentos.
Vida interrompida
Mãe de uma menina de 10 anos — criada pelos bisavós devido à doença —, Carolina viu sua rotina ser reduzida a crises e internações. Presidente da Associação da Neuralgia do Trigêmeo Brasil, ela segue usando sua voz para conscientização.
Risco e esperança
O procedimento, que envolve entubação e monitoramento intensivo, carrega riscos como infecções e trombose. Carolina, porém, encara-o como "um preço pequeno" diante da perspectiva de alívio. "Se não funcionar, ainda tenho a bomba de analgésicos. Mas preciso tentar tudo", desabafou.
Enquanto aguarda a internação, a jovem recebe doações para custos não cobertos pelo SUS (como medicamentos específicos) através de vaquinhas online. Sua jornada, documentada em mais de 20 reportagens ao longo de 2024, segue como símbolo da luta por dignidade em meio a dores invisíveis.